É possível equilibrar tradição e modernidade num só espaço. Seja por contraste, transformação ou continuidade, a grande maioria das cidades europeias vive desta relação entre passado e presente que as torna especialmente interessantes.
Foi numa pequena vila de Portugal que fomos encontrar um projecto habitacional capaz de harmonizar a sua envolvente construída com uma arquitectura verdadeiramente moderna. Entre linhas simples e contemporâneas criou-se uma habitação surpreendentemente modesta ao bom estilo português.
A intervenção foi liderada pelo arquitecto João Navas, cujo o atelier tem sido distinguido por vários prémios ao longo dos últimos vinte anos. Apesar de se ter especializado na área de reabilitação urbana e requalificação ambiental, o arquitecto tem desenvolvido uma grande variedade de projectos ligados à arquitectura e construção.
Situada em Celorico de Basto, a casa encontra-se bem no norte interior do nosso país, junto ao distrito de Braga. Rodeada pelos verdes da paisagem da região, a intervenção beneficia de uma envolvente sossegada e silenciosa, ideal para relaxar longe da confusão urbana.
O volume paralelepipédico desenvolve-se ao longo de um eixo longitudinal, estrategicamente desenhado de acordo com as características do terreno. A geometria minimalista da arquitectura é equilibrada pela cobertura com duas águas, capaz de estabelecer uma diálogo com a arquitectura do lugar.
Funcionalmente, a habitação desenvolve-se a partir de uma zona pública comum, que garante a continuidade ao longo da distribuição. As divisões que pressupõem um maior grau de intimidade foram integradas a uma cota superior recortando a volumetria interior da área central.
A iluminação natural é garantida através de uma série de vãos que recortam as paredes exteriores em locais estratégicos da construção. A dimensão familiar das janelas, proveniente da arquitectura tradicional, é quebrada pela inexistência de um alinhamento que as uniformize. A aparente desordem resulta de um desenho cuidadosamente pensado, que harmoniza o conjunto.
Tal como seria de esperar de um projecto com traços contemporâneos, a grande maioria das paredes de betão foi revestida num branco minimalista. Combinada com alguns detalhes em madeira, a paleta de cores acaba por criar um diálogo interessante com a paisagem que envolve a construção. Entre o banco artificial e os verdes naturais criou-se um quadro inesperadamente tradicional.
O protagonista dos interiores é, sem dúvida os quadros recortados nas paredes que permitem que a luz inunde os espaços e participe nas atmosferas criadas. A presença do branco é interrompida pelos caixilhos em metal e pelas mobílias em madeira que aquecem o espaço tornando-o mais acolhedor.
Embora o exterior já fosse abençoado pelas suas características naturais, foi integrada uma piscina em forma de L
responsável por refrescar nos dias de verão e reflectir o céu nos dias de verão. Entre a casa e a piscina criou-se um espaço para receber os amigos e conviver durante todo o dia.
A qualidade do trabalho desenvolvido reflete-se em cada centímetro deste terreno. A simplicidade e delicadeza da intervenção permitiu enaltecer as características do lugar, prescindindo de qualquer protagonismo. A clareza com que se lê o resultado final só pode resultar de um processo extremamente exigente.